quarta-feira, 22 de julho de 2009

FUNÇÃO TERAPÊUTICA DA PALAVRA



Para a Psicanálise a utilização da palavra é essencial.
Freud em sua I Conferência em 1916/1917 refere que cada disciplina tem seu instrumento de trabalho e que para a Psicanálise é a palavra.
O terapeuta pode questionar o que falar e em qual momento. A resposta é que devemos estar atentos devido ao fato de que
até um simples bom dia pode ser terapêutico.Esta frase resume dois pontos importantes para a Psicanálise. O primeiro é a atenção e a importância ao que se fala e o segundo é o uso utilitário da palavra como objetivo a torná-la terapêutica considerando a ação desta sobre o outro.
Tamanha a potência da palavra no uso terapêutico que Freud 1916/1917 a coloca como tema de relevância em sua obra. Vejamos suas considerações:
“Por meio das palavras uma pessoa pode tornar outra jubilosamente feliz ou levá-la ao desespero, por palavras o professor veicula seus conhecimentos aos alunos... Palavras suscitam afetos e são, de modo geral, o meio de mútua influência entre os homens”.
A palavra é essencial no processo terapêutico, pois é através dela que a pessoa expressa o sofrimento psíquico, manifesta os conteúdos inconscientes ligados ao desejo, estabelece a transferência analítica e procede-se a interpretações psicanalíticas.
Lacan em seu trabalho Função e Campo da Fala e da Linguagem,(1953) também coloca como ponto central o estudo e o uso da fala para a Psicanálise ratificando a posição freudiana de mostrar a força e importância da mesma:
“Quer se pretenda agente de cura, de formação ou de sondagem, a Psicanálise dispõe de apenas um meio: a fala do paciente. A evidência desse fato não justifica que se o negligencie¨.
Faz uma distinção muito importante em relação ao tipo de discurso apresentado, colocando a necessidade de apreendermos o que está sendo mostrado no discurso pleno e o que se pretende esconder no discurso vazio.
No discurso vazio pode parecer que nada está sendo transmitido ou que não se tem algo a transmitir, porém devemos investigar o que está sendo escondido em seu conteúdo mesmo que não comunique nada.
O discurso representa a existência da comunicação, mesmo que negue a evidência a fala constitui a verdade, se destinar a enganar ele especula com a fé.
Em relação ao discurso pleno, na investigação psicanalítica devemos contatar com a subjetividade e singularidade do sujeito, com o seu simbolismo buscando o que se quer mostrar. Lacan refere que o efeito de uma fala plena é recordar as contingências passadas dando-lhes o sentido das necessidades por vir, tais como as constitui a escassa liberdade pela qual o sujeito as faz presente.
A necessidade e a pressão social fizeram com que fosse abolido o uso da camisa-de-força e cela-forte como medidas de contenção de crises de agitação psicomotora e hetero-agressividade, dando lugar então à utilização preferencial da contenção verbal no manejo de tais situações nos equipamentos de saúde, especialmente de saúde mental.
Podemos perceber que na maioria das vezes o uso utilitário da palavra faz com que a pessoa retorne a um estado de auto-controle, podendo restabelecer a crítica e o contato com a realidade, sem necessidade de contenção mecânica e química.

Um comentário:

  1. Pois é Rafael!

    Já conversamos muito sobre isso e aproveito para aqui, agradece-lo!

    Aprendi muito com voçê que é um brilhante Prof e Doutor!

    Que bom que teve a idéia do blog!

    com certeza, será SUCESSO!

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